sábado, 26 de dezembro de 2009

Presente de Natal

Como era bonito o meu balão! Apesar de todos os meus amigos o acharem ultrapassado, nada me saparava do brinquedo mais importante que eu ganhei. Com ele, viajava para todos os lugares que imaginava. Voava longe nos detalhes, ao sabor adocicado dos meus sonhos. Estava decidido: um dia eu seria um balonista!
Nunca me esqueço de quando lançaram o mais novo avião, o PX-350. Todos o acharam encantador, uma verdadeira cópia em miniatura da realidade. Todo branco e cheio de luzes, chegava a brilhar mais que a própria árvore de natal naquele fim de ano. Aquele avião era o mais veloz meio de transporte em nossas brincadeiras. Ele ultrapassarava a velocidade da luz! Brinquedo bobo... Para que eu queria ser mais rápido que a luz dentro de um avião?

Diversão para mim era sobrevoar belos horizontes com meu velho balão. Criar formas, montanhas, vales e amores! Que graça tinha ir de um lugar a outro em flashes distorcidos, sem observar a paisagem? Faltava sensibilidade! Meus amigos tinham sido treinados para não deixar a vida passar, mas ela continuava passando como a própria luz pelas asas daquele avião.

Eu não! Eu fui treinado para observar a vida passar com meu balão. Era tão bom ver todas as cenas caminhando em câmera lenta. Alí sim a vida parava! O homem tenta estreitar seus limites terrenos e eu só tentava explorar a grande vastidão do meu ser. Somente o ar e o calor das emoções bastavam para manter meu balão nas alturas. Na simplicidade do seu vôo, nem petróleo eu precisava. Nunca atropelei ninguém ou perdi minha paciência com sinal vermelho. Eu era LIVRE!

Porém, um dia, meu balão furou e infelizmente não havia mecânica eficaz capaz de concertá-lo. Era impossível salvá-lo naquela momento. Ele foi despencando do céu, colorido, grandioso, até finalmente murchar por total.

- Será que não sabem que é proibido soltar balões? - alguém ainda exclamou.

Ele caiu no meio da Avenida Paulista e lá queimou até o fim. Carros passavam, pessoas andavam, e mesmo assim nenhum jornal nunca noticiou a queda. A poluição embaçava aquela figura agora estremecida, pálida, talvez insignificante; como uma foto desfocada perde seu valor. Depois daquele dia, ninguém mais o viu.
Felipe N.

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