quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Últimos momentos...

Agora falta muito pouco. As luzes já estão se apagando. O silencio tomou conta das ruas. Olho para o lado, olho para o outro. Tudo em câmera lenta. Subitamente sobe um clarão no céu! Não é avião, não é estrela, não é santo, não são fogos de artifício. É simplesmente o novo dia. O melhor presente que Deus me deu. O novo, para sempre, recomeçar!



Feliz 2010

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sons do Ano Novo

No quadro a parede
Na parede o retrato
Velho, arcaico e liso
Mas observado
No exato momento
Da virada de um ano
Novo, moderno e iluminado.

Na parede o cinza da desilução
No céu a mistura de cores
No clarão dos fogos.

Lá dentro, o rádio velho tocava
Um som forte e estéreo
Lá fora, o inaudivel
Já havia se transformado
Em histérico!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Presente de Natal

Como era bonito o meu balão! Apesar de todos os meus amigos o acharem ultrapassado, nada me saparava do brinquedo mais importante que eu ganhei. Com ele, viajava para todos os lugares que imaginava. Voava longe nos detalhes, ao sabor adocicado dos meus sonhos. Estava decidido: um dia eu seria um balonista!
Nunca me esqueço de quando lançaram o mais novo avião, o PX-350. Todos o acharam encantador, uma verdadeira cópia em miniatura da realidade. Todo branco e cheio de luzes, chegava a brilhar mais que a própria árvore de natal naquele fim de ano. Aquele avião era o mais veloz meio de transporte em nossas brincadeiras. Ele ultrapassarava a velocidade da luz! Brinquedo bobo... Para que eu queria ser mais rápido que a luz dentro de um avião?

Diversão para mim era sobrevoar belos horizontes com meu velho balão. Criar formas, montanhas, vales e amores! Que graça tinha ir de um lugar a outro em flashes distorcidos, sem observar a paisagem? Faltava sensibilidade! Meus amigos tinham sido treinados para não deixar a vida passar, mas ela continuava passando como a própria luz pelas asas daquele avião.

Eu não! Eu fui treinado para observar a vida passar com meu balão. Era tão bom ver todas as cenas caminhando em câmera lenta. Alí sim a vida parava! O homem tenta estreitar seus limites terrenos e eu só tentava explorar a grande vastidão do meu ser. Somente o ar e o calor das emoções bastavam para manter meu balão nas alturas. Na simplicidade do seu vôo, nem petróleo eu precisava. Nunca atropelei ninguém ou perdi minha paciência com sinal vermelho. Eu era LIVRE!

Porém, um dia, meu balão furou e infelizmente não havia mecânica eficaz capaz de concertá-lo. Era impossível salvá-lo naquela momento. Ele foi despencando do céu, colorido, grandioso, até finalmente murchar por total.

- Será que não sabem que é proibido soltar balões? - alguém ainda exclamou.

Ele caiu no meio da Avenida Paulista e lá queimou até o fim. Carros passavam, pessoas andavam, e mesmo assim nenhum jornal nunca noticiou a queda. A poluição embaçava aquela figura agora estremecida, pálida, talvez insignificante; como uma foto desfocada perde seu valor. Depois daquele dia, ninguém mais o viu.
Felipe N.

A última valsa

Voltar à casa dos pais após longos vinte anos de ausência é uma sensação que Fábio não conseguia descrever. A única cena que ainda restava na sua memória se misturava com a movimentação adormecida do último dia vivido naquele local. Uma grande angustia lhe apertava o peito e um gosto amargo começou a embrulhar seu estômago.

Todo aquele sentimento guardado durante anos parecia reprimir seus passos, os quais ficavam cada vez mais lentos até pararem. Um ar gélido abraçou-lhe as pernas. A sala de piso frio continuava idêntica ao último dia. O silêncio o ensurdecia diante de tantas recordações. As sensações foram se tornando sons, vozes, gritos e finalmente imagens. Agora se lembrava de tudo. Pressionou os ouvidos com as mãos, mas não adiantava. Seus pensamentos eram entrecortados, alguns ainda pareciam acorrentados, presos. Havia sido forçado a esquecer...

Olhou para a parede. Teias de aranha e muita poeira davam ao local um tom cadavérico. As rachaduras da madeira velha que formavam o forro acinzentado pareciam contorcer em estalos secos forçados pelo vento que entrava pela janela de vidros quebrados. O tempo foi efetivo com o seu abandono. Por onde passou deixou marcas. Porém, maiores eram as deixadas na vida de Fabio. Sentou-se no chão. Fechou os olhos. Rugas! Começou a pensar...

No ultimo dia, pessoas corriam. Não lembrava mais seus rostos. A vida sempre fora muito sofrida naquela casa. Não eram pobres; os dias que eram cruéis. Mas o tarde era de festa! A manifestação contra a ditadura militar havia sido modesta, não dava para se negar. O bom rapaz, ainda muito jovem, estudante universitário, sorria com um ar de trabalho bem feito. Era difícil mobilizar as pessoas no Brasil. Elas ficam cegas muito facilmente, pensava. Se não por medo, por acomodação ou ainda pior: talvez não queiram dar o braço a torcer, enxergar a realidade. Ele só queria justiça!

Adultos e crianças corriam e dançavam e gritavam. O disco de vinil cantava chiando, mas, em meio a tanta animação, nem se escutava o ruído. E festejavam uma liberdade sonhada por todos. A mãe de Fábio chamou-o para o canto. Ele havia prometido que, se a manifestação desse certo, dançaria valsa com ela. Uma proeza para o perna de pau! - era assim que a mãe o chamava. Ela ria. Por dentro, tinha medo. Ainda estava aflita, como se previsse alguma coisa ruim.

Deram as mãos. Alinharam os pés. Olharam nos olhos. De repente a música parou.

- É a polícia! Você, rapaz, está preso por conspirar contra a nação!

O pai de Fabio estremeceu. Ele era um senhor simples, de cabelos brancos. Nunca gostou de política e não concordava com o filho se arriscando por ela. E agora estava a vê-lo sendo preso. Fabio via seus sonhos e ideais virem abaixo. Foi torturado, preso, passou fome e sede. Por fim, foi exilado após confessar ter encabeçado a manifestação contra a ditadura.

Abriu os olhos. A casa estava suja. Ele, velho. Como haviam envelhecido seus pais? Nunca saberia. Após vinte anos, o que lhe restava era somente sua anistia, o retrato em cima da mesa e, no ar, a melodia da valsa que nunca dançou.

Felipe N.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Uma taça de champagne

Algo claramente notório:
Nem sempre o ponteiro do relógio
precisa dar tantas voltas
para mostrar em altas horas
o que aconteceu no seu interior.

O tempo parou no meu peito
embebido por novos acontecimentos
a procura de alguns segundos a mais
de vida, carinho, ternura e paz
atinando-se a uma nova sensação.

Sentimento em percepção!
Eis que surge então um pensamento
alto, imponente, pensante, voraz
que entre sonhos não se perde, jamais!
Por ser espontâneo, talvez ideal
em olhos abertos, fechados ao mal.

Quanta emoção represada
se esvai entrelaçando estas pernas
É doce, é suave, é singela. Ela
que está fazendo a noite rodar
em voltas e voltas, sem parar.

Penso em você. Sinto em você!
E na loucura deste sonho
que não mais terminará
meu tempo se tornou seu tempo
alma, corpo, eterno sentimento:
Amado amor. Amado amar!

Felipe N.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Filosofando sobre um olhar triste...

Porque a foto do olhar com lágrimas timidas se tudo é exatamente como você mesmo disse? Quando não se precisa de ninguém e somente de si mesmo para amar, você entende que não adianta mais chorar pelo que passou. Afinal, seu amor próprio já cresceu tanto que não importa o quanto você goste ou tente gostar de alguém; seu amor próprio sempre será maior que qualquer outro sentimento que você venha sentir por uma pessoa! Daí, nunca vai ter graça dizer eu te amo para ninguém mesmo! Nunca se sentirá preparado para isso, pois seu coração é insensível para tal. Então, por que chorar? Não sei, mas choram, cada uma pelos seus motivos... Isso não é ser triste. Triste é pensar que muitos não estão a chorar pelo outro, não! Choram porque a solidão é horrível pra quem vai passar a vida disfarçando que é feliz do jeito é; que não se deixa entregar para não afetar a excelência do seu ser auto-suficiente... Viva a psicologia do egoísmo! Talvez um dia estas pessoas consigam acreditar que a máscara que inventaram possa se tornar realmente um rosto sorridente, como quando se faz correções em uma foto com a delicadeza do Photoshop, simplesmente para dar um aspecto melhorzinho à imensidão que sobra no peito. Mas, também é possível encontrar "a felicidade" sendo assim ainda que ela se mantenha pelo retoque frio do mesmo pincel que, um dia, deixou de colorir os momentos não vividos para sua “auto-proteção”. Não se lamente pelo sorriso que não teve, mas lamente pelo sorriso que não proporcionou a quem te amava, porque esta foi a mais infeliz escolha que alguém já fez enquanto viveu em cima de um pedestal que, por si mesmo, criou.
É tão triste quando você acha que tudo o que ainda há para viver já foi aprendido um dia no passado; que não há mais motivos para se aventurar uma vez que sua visão, tão apurada, se tornou limitante para nossa própria vida. E nesta psicologia tão perfeita do evitar novos problemas, é que foi possível, para mim, perceber a crueza da sua certeza do que é “ser feliz" para você mesmo. Estas idéias prontas que foi preciso você acreditar para conseguir mentir para a sua própria inteligência, todos os dias, dizendo que sentir é para os fracos, que pensar assim evitaria “abalar” realidades visíveis, mas contestáveis! Aí é que está a diferença entre o ser ator e autor da sua própria inteligência, sabia? Muitos dizem: eu quero ser autor da minha própria vida e nem sabem o que dizem... Outros já perceberam que não é tão ruim ser ator, uma vez que é possível se esconder em teorias psíquicas fantásticas e, ainda por cima, ficarem bem na fita! Mas verdade seja dita. Viver ensaiando uma peça para ver que no final o indivíduo nem encenar se deu o direito de fazer, é uma afronta ao pensamento autodidata! Julgo verdade quando digo que o ator vislumbra a cena de maneira muito mais real que sonhada pelo autor. Simplesmente porque ele VIVE a cena. Porém, o aprendizado leva a gente a ver o quanto é bom aprender a criticar a inteligência que nos é imposta simplesmente para construirmos nossa própria inteligência tão bem quanto a de outros autores. Isso porque nada na vida ensina mais que viver a realidade dia após dia sem ter medo de ser feliz... Recebendo dela a real sensação DO VIVER, muito além que a do ENCENAR inteligências já descritas!

Sabe, acho que a vida tão sem sal, tão sem graça, tão... INUTIL pra quem é sensato o tempo todo, entende? Porque tem gente que acredita que exista referência bibliográfica até para o sentimento humano. Que graça tem sorrir quando já se era esperado sorrir? E chorar quando as coisas culminaram para que lágrimas aparessam? Isso é ser NORMAL... Mas VIVER definitivamente não é normal... Viver é SER ESPONTÂNEO! É chorar no exato momento em que se abre aquele sorriso e sorrir no exato momento em que o choro abraçou-lhe as pernas! Sabe por quê? Porque no peito havia a certeza de que a missão havia sido cumprida de maneira limpa, genuína e honesta, que o coração foi conquistado pela promessa, pela certeza, pela força da atitude, acima de qualquer inteligência, de qualquer revés.

Muitos choram por serem mimados, medrosos, sozinhos... Outros choram porque realmente sentiram mesmo tendo medo... Porque resolveram viver a vida para serem felizes, independente de certezas pré-concebidas, pois já sabiam que a felicidade é cíclica. Ela vai, vem, vai, vem... vai! Vem?

Boa noite!

Felipe N.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Som do lamento menor

No frio, o jardim um dia seca
Não importava a água fresca
Quando o sol o verde queima
Chora o garoto de tristeza...

Não bastou o azul do céu
Ser tão doce quanto o mel
E toda a sensação de bem querer
Se amargou na língua a doer

Passava o dia, o ano, a euforia
E o relógio que deu toda alegria
Voltou a tocar em tom menor
O velho samba do lamento:

ArrePENdimento
ArrePENdimento
ArrePENdimento
ArrePENdimento...

Felipe N.