sábado, 13 de fevereiro de 2010

Capítulo 4: O nascimento

Os dias foram passando. Tio Luís viajou para França duas semanas depois da visita inesperada de tia Gilda. Ela, por sua vez, tentava manter-se forte mesmo prestes a dar a luz. No dia em que estava programado o parto, passou a sentir as dores da contração uterina. Ligou para irmã que veio rapidamente socorrê-la.

Às 7:35h daquela sexta-feira, nasceu Juliana, uma menina linda e serena. Suas feições eram suaves e arredondas. Lembrava em muito os traços da Tia Gilda. O nosso menino ficou com os avos na recepção. Eles estavam nervosos enquanto o menino descontraia o ambiente com sua risada divertida em resposta aos sons engraçados do ambiente inusitado para ele.

Então apareceu sua mãe dando a notícia do nascimento. Todos comemoraram. Entraram no quarto, deram os parabéns para a Gilda e foram apresentados ao novo membro da família: Juliana. Nosso menino ficou sério. Alguém comentou a reação.

Tia Gilda disse: “Se ele não fosse cego, tadinho, iria adorar vê-la de verdade, não é verdade, mana?”. A irmã respondeu afirmativamente com a cabeça, mas com o olhar triste. Seus olhos estavam úmidos. Ficaram um tempo ali. Depois, os avos pegaram nosso menino e o levaram para a casa. Cuidariam dele naquela noite. Ao sair do quarto, o menino colocou sua cabeçinha sobre os ombros da avó. Fitou a prima com um olhar vago, como se quisesse enxergá-la de verdade. Por que havia ficado tão sério? A menina o olhava fixamente. Então ela sorriu enquanto o nosso menino voltara à posição fetal nos braços da avó.

Capítulo 3: Saudades...

Os meses iam passando e a vida continuava. Tia Gilda ficara ainda mais gordinha com o acontecimento da gravidez. Quando a criança já estava para nascer, resolveu ir visitar sua irmã e o nosso menino.

Tocou a campainha. Comprimentos, beijos e abraços. Saudade! Tia Gilda repetiria esta palavra mais uma vez naquele dia. Conversaram sobre o nosso menino, as dificuldades de ser mãe e outros assuntos não relevantes a nossa narrativa.

Tomaram chá. Tia Gilda foi até o cercadinho onde o sobrinho sapeca brincava. Olhou pra o menino e disse: “E o menino crescia em graça e estatura!”, relembrando das palavras que havia escutado durante as leituras da missa naquele domingo. Ela tinha um apreço muito grande pelo menino que fitava seu barrigão achando-o desajeitado.

Chamou aparte sua irmã e comunicou a ela o motivo da visita. Disse que Luís havia recebido uma proposta de emprego na França em uma equipe médica de renome. Oportunidade irrecusável! Contou ainda que fora decidido entre eles os próximos passos da família: ela ficaria no Brasil mas um mês, até sua filhinha nascer, mas logo depois também se mudaria para França com o marido, por um tempo indeterminado.

Todos ficaram tristes na casa. Tia Gilda sempre fora a pessoa mais iluminada da família em termos de alegria e diversão. Quanto ao nosso menino, ele ainda era muito novo para entender o que estava acontecendo... Sentirei saudade! – disse tia Gilda para ele com olhar de reciprocidade.

Ao pegá-lo no colo, o menino tocou a barriga da grávida com as mãozinhas e fez uma carinha de espanto. Tia Gilda concordou com ele dizendo que ela era grande mesmo. Risos! Depois o menino encostou sua cabecinha na tia como se quisesse escutar o que havia ali dentro. Como num momento mágico, nosso pequeno mimado disse suas primeiras palavras: “Anjo!”. Tia Gilda concordou com o menino: “Sim! É um anjinho que está crescendo aí dentro.”... O menino sorriu. Foi um momento puro e terno.

Tia Gilda despediu-se num gesto simples, como se quisesse prolongar o tempo de espera e partida que lhe restava.