quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Últimos momentos...
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Sons do Ano Novo
Na parede o retrato
Velho, arcaico e liso
Mas observado
No exato momento
Da virada de um ano
Novo, moderno e iluminado.
Na parede o cinza da desilução
No céu a mistura de cores
No clarão dos fogos.
Lá dentro, o rádio velho tocava
Um som forte e estéreo
Lá fora, o inaudivel
Já havia se transformado
Em histérico!
sábado, 26 de dezembro de 2009
Presente de Natal
Diversão para mim era sobrevoar belos horizontes com meu velho balão. Criar formas, montanhas, vales e amores! Que graça tinha ir de um lugar a outro em flashes distorcidos, sem observar a paisagem? Faltava sensibilidade! Meus amigos tinham sido treinados para não deixar a vida passar, mas ela continuava passando como a própria luz pelas asas daquele avião.
A última valsa
Voltar à casa dos pais após longos vinte anos de ausência é uma sensação que Fábio não conseguia descrever. A única cena que ainda restava na sua memória se misturava com a movimentação adormecida do último dia vivido naquele local. Uma grande angustia lhe apertava o peito e um gosto amargo começou a embrulhar seu estômago.
Todo aquele sentimento guardado durante anos parecia reprimir seus passos, os quais ficavam cada vez mais lentos até pararem. Um ar gélido abraçou-lhe as pernas. A sala de piso frio continuava idêntica ao último dia. O silêncio o ensurdecia diante de tantas recordações. As sensações foram se tornando sons, vozes, gritos e finalmente imagens. Agora se lembrava de tudo. Pressionou os ouvidos com as mãos, mas não adiantava. Seus pensamentos eram entrecortados, alguns ainda pareciam acorrentados, presos. Havia sido forçado a esquecer...
Olhou para a parede. Teias de aranha e muita poeira davam ao local um tom cadavérico. As rachaduras da madeira velha que formavam o forro acinzentado pareciam contorcer em estalos secos forçados pelo vento que entrava pela janela de vidros quebrados. O tempo foi efetivo com o seu abandono. Por onde passou deixou marcas. Porém, maiores eram as deixadas na vida de Fabio. Sentou-se no chão. Fechou os olhos. Rugas! Começou a pensar...
No ultimo dia, pessoas corriam. Não lembrava mais seus rostos. A vida sempre fora muito sofrida naquela casa. Não eram pobres; os dias que eram cruéis. Mas o tarde era de festa! A manifestação contra a ditadura militar havia sido modesta, não dava para se negar. O bom rapaz, ainda muito jovem, estudante universitário, sorria com um ar de trabalho bem feito. Era difícil mobilizar as pessoas no Brasil. Elas ficam cegas muito facilmente, pensava. Se não por medo, por acomodação ou ainda pior: talvez não queiram dar o braço a torcer, enxergar a realidade. Ele só queria justiça!
Adultos e crianças corriam e dançavam e gritavam. O disco de vinil cantava chiando, mas, em meio a tanta animação, nem se escutava o ruído. E festejavam uma liberdade sonhada por todos. A mãe de Fábio chamou-o para o canto. Ele havia prometido que, se a manifestação desse certo, dançaria valsa com ela. Uma proeza para o perna de pau! - era assim que a mãe o chamava. Ela ria. Por dentro, tinha medo. Ainda estava aflita, como se previsse alguma coisa ruim.
Deram as mãos. Alinharam os pés. Olharam nos olhos. De repente a música parou.
- É a polícia! Você, rapaz, está preso por conspirar contra a nação!
O pai de Fabio estremeceu. Ele era um senhor simples, de cabelos brancos. Nunca gostou de política e não concordava com o filho se arriscando por ela. E agora estava a vê-lo sendo preso. Fabio via seus sonhos e ideais virem abaixo. Foi torturado, preso, passou fome e sede. Por fim, foi exilado após confessar ter encabeçado a manifestação contra a ditadura.
Abriu os olhos. A casa estava suja. Ele, velho. Como haviam envelhecido seus pais? Nunca saberia. Após vinte anos, o que lhe restava era somente sua anistia, o retrato em cima da mesa e, no ar, a melodia da valsa que nunca dançou.
Felipe N.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Uma taça de champagne
Nem sempre o ponteiro do relógio
precisa dar tantas voltas
para mostrar em altas horas
o que aconteceu no seu interior.
O tempo parou no meu peito
embebido por novos acontecimentos
a procura de alguns segundos a mais
de vida, carinho, ternura e paz
atinando-se a uma nova sensação.
Sentimento em percepção!
Eis que surge então um pensamento
alto, imponente, pensante, voraz
que entre sonhos não se perde, jamais!
Por ser espontâneo, talvez ideal
em olhos abertos, fechados ao mal.
Quanta emoção represada
se esvai entrelaçando estas pernas
É doce, é suave, é singela. Ela
que está fazendo a noite rodar
em voltas e voltas, sem parar.
Penso em você. Sinto em você!
E na loucura deste sonho
que não mais terminará
meu tempo se tornou seu tempo
alma, corpo, eterno sentimento:
Amado amor. Amado amar!
Felipe N.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Filosofando sobre um olhar triste...
É tão triste quando você acha que tudo o que ainda há para viver já foi aprendido um dia no passado; que não há mais motivos para se aventurar uma vez que sua visão, tão apurada, se tornou limitante para nossa própria vida. E nesta psicologia tão perfeita do evitar novos problemas, é que foi possível, para mim, perceber a crueza da sua certeza do que é “ser feliz" para você mesmo. Estas idéias prontas que foi preciso você acreditar para conseguir mentir para a sua própria inteligência, todos os dias, dizendo que sentir é para os fracos, que pensar assim evitaria “abalar” realidades visíveis, mas contestáveis! Aí é que está a diferença entre o ser ator e autor da sua própria inteligência, sabia? Muitos dizem: eu quero ser autor da minha própria vida e nem sabem o que dizem... Outros já perceberam que não é tão ruim ser ator, uma vez que é possível se esconder em teorias psíquicas fantásticas e, ainda por cima, ficarem bem na fita! Mas verdade seja dita. Viver ensaiando uma peça para ver que no final o indivíduo nem encenar se deu o direito de fazer, é uma afronta ao pensamento autodidata! Julgo verdade quando digo que o ator vislumbra a cena de maneira muito mais real que sonhada pelo autor. Simplesmente porque ele VIVE a cena. Porém, o aprendizado leva a gente a ver o quanto é bom aprender a criticar a inteligência que nos é imposta simplesmente para construirmos nossa própria inteligência tão bem quanto a de outros autores. Isso porque nada na vida ensina mais que viver a realidade dia após dia sem ter medo de ser feliz... Recebendo dela a real sensação DO VIVER, muito além que a do ENCENAR inteligências já descritas!
Sabe, acho que a vida tão sem sal, tão sem graça, tão... INUTIL pra quem é sensato o tempo todo, entende? Porque tem gente que acredita que exista referência bibliográfica até para o sentimento humano. Que graça tem sorrir quando já se era esperado sorrir? E chorar quando as coisas culminaram para que lágrimas aparessam? Isso é ser NORMAL... Mas VIVER definitivamente não é normal... Viver é SER ESPONTÂNEO! É chorar no exato momento em que se abre aquele sorriso e sorrir no exato momento em que o choro abraçou-lhe as pernas! Sabe por quê? Porque no peito havia a certeza de que a missão havia sido cumprida de maneira limpa, genuína e honesta, que o coração foi conquistado pela promessa, pela certeza, pela força da atitude, acima de qualquer inteligência, de qualquer revés.
Muitos choram por serem mimados, medrosos, sozinhos... Outros choram porque realmente sentiram mesmo tendo medo... Porque resolveram viver a vida para serem felizes, independente de certezas pré-concebidas, pois já sabiam que a felicidade é cíclica. Ela vai, vem, vai, vem... vai! Vem?
Boa noite!
Felipe N.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Som do lamento menor
Não importava a água fresca
Quando o sol o verde queima
Chora o garoto de tristeza...
Não bastou o azul do céu
Ser tão doce quanto o mel
E toda a sensação de bem querer
Se amargou na língua a doer
Passava o dia, o ano, a euforia
E o relógio que deu toda alegria
Voltou a tocar em tom menor
O velho samba do lamento:
ArrePENdimento
ArrePENdimento
ArrePENdimento
ArrePENdimento...
Felipe N.